Era uma vez um pinto careca que andava pelo monte à procura de comida e de fortuna.
Um dia, esgravatando na terra, encontrou uma bolasa cheia de moedas de ouro.
Admirado com tanta riqueza, pensou: Vou levá-la ao rei.
Com a bolsa às costas e muito animado, pôs-se a andar pelo caminho real.
Pouco depois, o Pinto chegou a um rio e, como não podia atravessá-lo, gritou:
- Afasta-te, rio, que quero passar!
Mas o rio continuou a correr como se nada fosse.
Assim, o Pinto bebeu toda a sua água e continuou a andar.
Mais adiante, o Pinto Careca encontrou uma coruja caída no chão e gritou:
- Voa coruja, que quero passar!
Mas a coruja não mexeu uma palha.
Assim, o pinto tragou-a inteira e continuou a andar.
Pouco depois, o Pinto Careca encontrou um pinheiro enorme que ocupava o caminho, e gritou:
- Tira-te daí, pinheiro, que quero passar!
Mas o pinheiro lá continuou plantado.
Assim, o Pinto engoliu-o inteiro e continuou a andar.
Em seguida, o Pinto encontrou uma raposa que se tinha deitado de um lado ao outro do caminho, e gritou:
- Fora daqui, raposa, que quero passar!
Mas a raposa não fez caso do que ele disse.
Assim, o Pinto Careca meteu-a pela boca, e seguiu andando.
Por fim, o Pinto Careca chegou ao palácio real, com a bolsa cheia de moedas e a barriga ainda mais cheia.
Fez-se anunciar, fez uma vénia e entregou o ouro a sua majestade, o rei.
O rei, que era um tacanho, contou as moedas mirando o pinto de esguelha, e pensou que seria uma pena se não aproveitasse para comê-lo num belo banquete.
Convidou-o a ficar no palácio e, com muita cortesia, mandou que os criados o acompanhassem ao galinheiro.
O Pinto Careca percebeu que aquilo era uma armadilha e, muito irritado, começou a gritar:
- Qui-qui-ri-qui, qui-qui-ri-qui, quero as minhas moedas já aqui!
E como abriu tanto o bico, a raposa saiu de repente e comeu todas as galinhas mais depressa que um cantar de galo.
O rei, soltando chispas, ordenou que encerrassem o pinto no louceiro.
- Qui-qui-ri-qui, qui-qui-ri-qui, quero as minhas moedas já aqui!- Tornou a gritar o Pinto Careca.
E como abriu o bico um pouco mais, o pinheiro saiu cá para fora e a louça caiu ao chão quebrando-se em mil pedaços.
O rei furioso, pôs-se a gritar e ordenou que metessem o Pinto no pote de azeite.
O Pinto Careca esticou a cabeça e gritou ainda mais forte:
- Qui-qui-ri-qui, qui-qui-ri-qui, quero as minhas moedas já aqui!
E como abriu tanto o bico, a coruja levantou voo, bebeu o azeite e deixou o pote seco.
O rei estava tão furioso que deitava fumo pelas orelhas.
Assim, decidiu comer o Pinto sem demora.
E mandou acender o forno para assá-lo com penas e tudo.
Então o Pinto Careca gritou com todas as suas forças.
- Qui-qui-ri-qui, qui-qui-ri-qui, quero as minhas moedas já aqui!
E como tinha o bico aberto de par em par, saiu-lhe da garganta um caudal de água que apagou as brasas do forno.
Depois, a água começou a borbolhar e a correr pela cozinha, pelos corredores e por todo o palácio.
O rei, que era um caguinchas, teve medo de morrer afogado e apressou-se a devolver as moedas de oiro ao Pinto Careca, para que desaparecesse de vez.
Felizes e contentes, o Pinto Careca, a raposa e a coruja recolheram as moedas de ouro, montaram o pinheiro, a cavalo, e foram, os três juntos, rio abaixo.
E viajaram pelo mundo, tão felizes, até ao dia que o pinheiro resolveu ganhar raizes.
Vitória, vitória, acabou-se a história!
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